Debate sobre Ética na Política e Ética no Judiciário marca o início do Paulo Freire em setembro

set 21, 2017 | 0 Comentários

“Paulo Freire em setembro” reuniu, na última terça-feira (19), estudantes, educadores e representantes de intuições de ensino e sindicatos no auditório do Centro de Educação da UFPE, no Recife. Anualmente, o evento celebra o aniversário do patrono da educação brasileira, mas este ano – diante do desmonte da educação pública – o Paulo Freire em setembro ganhou corpo e se configurou como Jornada Latino Americana de Luta em Defesa da Educação Pública, Gratuita, Laica e Emancipadora.

A solenidade da mesa de abertura foi iniciada com a apresentação dos estudantes da Escola de Referência Ensino Médio (EREM) Porto Digital, que integram a banda escolar Porto Mix. Segundo a professora de artes, Sônia Torres, a banda surgiu como uma forma de resistência contra o preconceito religioso dentro da escola, mas o debate se amplia através da música para outros assuntos, como meio ambiente e direitos sociais. Os jovens foram convidados a cantarem uma versão percussiva do Hino Nacional para a ocasião.

A solenidade contou com a presença de representantes da Cátedra Paulo Freire, do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco, Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), Conselho Nacional de Educação, Centro de Educação da UFPE, Pro-Reitoria de Extensão e Cultura da UFPE, Pro-Reitoria para Assuntos Estudantis da UFPE, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.

Durante a mesa de abertura, Eliete Santiago, coordenadora da Cátedra Paulo Freire, destacou que o dia do aniversário Paulo Freire deve ser um dia de comemoração e mobilizações. “É O momento e movimento de se realizar a leitura crítica da realidade”, definiu. De acordo com os integrantes da mesa, a educação pública é fundamental para uma construção de País. “Existem 50 milhões de matrículas na educação brasileira e 40 milhões dessas matrículas estão na escola pública”, destacou Alfredo Macedo, diretor do Centro de Educação da UFPE.

Em seguida, o evento deu início às mesas temáticas. O debate sobre Ética na Política e Ética no Judiciário contou com a participação do filósofo Sérgio Ramos e da advogada professora Liana Cirne Lins, ambos professores da Universidade Federal de Pernambuco. A advogada iniciou a sua reflexão conectando a crise de representatividade brasileira e o momento em que setores conservadores da sociedade conduziram esse movimento iniciado em 2013. Para ela, assim como os partidos políticos se utilizaram das pautas daquele momento, a Justiça também se colocou politicamente no debate.

A advogada explicou ainda a diferença entre os conceitos de neutralidade e imparcialidade e reafirmou que a função da Justiça é julgar conflitos. Para Liana, o Brasil viveu um momento importante quando a luta de classe se uniu ao movimento negro e ao feminista, entretanto afirma que a luta que representa essa união de causas precisa ser travada nas instâncias superiores e na base também, como lutar contra o machismo, racismo e homofobia nas nossas relações cotidianas.

O segundo expositor, o filósofo Sérgio Ramos, chamou atenção sobre o outro que durante toda a história foi violentado, agredido, seja ele negro, judeu, mulher, índio, sírio. “A ética é um lugar de resistência contra a violência, é uma luta contra a exclusão”, defendeu. Para o Ramos, a política é uma atividade de regu

lação do humano, não há apolítico, não há lugar de não político, não há neutralidade política. Segundo Ramos, Aristóteles colocava que a política é uma decorrência da ética. Entretanto movimentos históricos tentam separar a política da ética, uma é a Realpolitik e o outro é o moralismo.

Sobre o patrono da Educação e aniversariante, Ramos observou que a pedagogia do oprimido de Paulo Freire é antes de tudo uma ética da condição humana, ou seja, ela observa o outro. Em Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire nos fala sobre o que é fundamental, a capacidade de sermos autônomos, de enfrentar as tempestades. O patrono da Educação brasileira nos lança um sentimento de esperança, sentimento que é capaz de resistir contra as intempéries. Paulo Freire fala sobre a pedagogia da resistência, sobre a amorosidade, sobre a esperança para mudar.

(Sintepe, 20/09/2017)

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